Saí de Fortaleza era noite, a noite mais longa da minha vida, tempo abafado, como
noite de verão, calor tenso incômodo, angústia abafada, chovia, mas por dentro, choro em
silêncio sem lágrimas. Quando a insegurança encontra frestas a tristeza termina
por colocar abaixo, portas, janelas, nada resiste, fragmenta se, uma dupla
implacável, como vodca e suco de laranja, o chão falta sob os pés, sem perceber
mergulhou no mar gélido da desilusão, o
horóscopo dizia que a cor era azul, mas tudo está vermelho. Não há raio de Sol,
as manhãs atravessam você, tenho muito sono, dormiria dias, semanas ...o
celular? Nunca sei onde deixo, além do mais está sempre desligado, esqueci de
carregar. Mentira?! Não esqueço nada, o cheiro, as palavras, a rizada, as
farpas trocadas na intimidade desnuda, escorpiano é assim, não esquece, será
que foi fantasia?
Não
importa, não mais, estou na letra da música que baixei sem conhecer, só por que
gosto da cantora, minha mãe usa uma música dela como toque do celular, gosto de
apresentar coisas novas a minha mãe, ela opina sobre tudo. “Já é tarde, vou me
embora (...) Eu vivo longe daqui, mas te tenho no meu coração. Se algo
acontecer será tão bom” pode parecer meio adolescente, mas era isso, eu estava
ali inteiro na sala ouvindo a música e fez todo sentido, pensando em como foi
bom sentir tudo aquilo, me perder, semanas antes ouvi um amigo dessas pessoas
espiritualizadas da voz calma que transmite paz e confiança até na forma de
falar, ele disse que gostava muito do Chico Cesar, em especial da música ‘templo’, por que ela fazia referencia a compreensão do espíritas para os quais quem ama
sempre perde, discordei em silêncio.
Anunciaram;
é primavera, vi fotos dos ipês nas redes sociais, passou, senti quando ouvi o
som da minha própria rizada, era a estridente gargalhada, minha tia adora, as
vezes ela ri só por que gargalhei, assim sem saber o porquê, me surpreendi, era
a primavera, sou eu rindo, é a vontade de rever os amigos, a inquietude,
vontade de produzir algo relevante, eram as neuroses silenciadas, todas, são
muitos carboidratos, proteína, ser feliz sempre deu fome.