sábado, 20 de junho de 2015

Desculpe Neide, pela segunda vez caí e chorei

    Terça feira voltando da universidade para casa numa bicicleta compartilhada caí, o transito no horário era tranquilo, caí por descuido, desatenção, sempre que estou pelas ruas passam mil pensamentos. O pneu da bicicleta enganchou em um bueiro e fui ao chão, senti o gosto de sangue na boca, o sangue ferve, não senti dor, só raiva. cheguei em casa e percebi que havia quebrado um dente, tomei banho, observei mais atentamente os machucados, troquei a roupa e fui a uma clínica odontológica que tem atendimento de urgência. Fui atendido muito rapidamente, uma dentista Regina me atendeu, atenciosa e prática me disse de modo muito simples e delicado que meu dente havia quebrado e não teria a mesma cor. Voltei pra casa ainda chateado duas horas depois, liguei pra minha mãe falei do que havia acontecido, e dormi, dormi tão profundamente, as vezes faço isso me entrego ao sono pra me refazer.
    No outro dia senti dores nos joelhos e nos cotovelos, mas não comentei nada com mais ninguém, ainda liguei pras minhas tias, não dá pra esconder nada delas, as tranquilizei, mas não estava bem, me senti inseguro, não fiz nada naquela manhã, fiquei em casa como que velando minhas dores, não compartilhei com ninguém mais o incidente, a tarde fui trabalhar, decidi, estava refeito. Não comentei nem pulverizei queixas em redes sociais, detesto o mimimi! Sou fiel a verdade do personagem social, altivo, confiante, ele sou eu.
    Passados esses dias acordei disposto fui atualizar leituras li jornais matérias interessantes, e cheguei a coluna de Ruth de Aquino, ela trata de Neide, Jacineide Silva doméstica na casa de seu filho, Neide, saiu do Maranhão para trabalhar no Rio de Janeiro, descobriu um nódulo na mama, e se encaminhou ao serviço público, entre consultas exames Ruth descreve a peregrinação de Neide pelos hospitais, enquanto o nódulo cresce, no Brasil 60 mil mulheres por ano apresentam são diagnosticadas com câncer de mama, Neide é mais uma nas estatísticas de campanhas do governo que incentivam o autoexame, a medida que lia a matéria, senti o travo na garganta, aquela sensação de desproteção da queda, senti a lágrima correr o rosto e molhar a página, chorei pela Neide, Neide poderia ser minha mãe, poderia ser uma das minhas tias, poderia ser a alegre dona Fátima que foi doméstica na minha casa e achava graça de me ver na cozinha bater bolo, esperando pra lavar a louça, e chorei e levantei e vim pra o computador escrever para exorcizar essa sensação ruim do chão que nos falta, e só quero que vocês Neide tenham um país que as respeite, eu as amo muito.
   Segue a coluna de Ruth de Aquino
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ruth-de-aquino/noticia/2015/06/desculpe-neide.html  
    

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